domingo

Batôn



Tocava o telefone, quase sempre três vezes. Eu corria rápido atrás dela, sem esconder a minha presença. Ela, desatenta, sarrabiscava o papel mais próximo enquanto falava dos problemas. Só o fazia quando não tinham carga demasiado afectiva. Eu gostava de ouvir o que dizia e analisava o que ficava no papel. Sem nexo. As linhas está claro. Estranho como as cortava e entraçava umas com as outras até deixar marca profunda no papel! As palavras essas... só por vezes sem nexo... mas temos que dar o desconto já que eu ouvia apenas um monólogo e tentava imaginar o diálogo.


Leio e aponto o relevante, a reter. Nos primeiros dois minutos. Dou por mim a sarrabiscar... De início faço-o sem nexo, desatenta. Depois penso... porque desenho sempre cubos? disseram-me um dia que no intímo é prisão. Então passo a desenhar círculos, de linhas paralelas. Sinto ser mau agoiro se se tocarem...


Dei por mim a desenhar corações. Experimenta....


Tem bico arredondado? é gordinho? arrepiado ou calmo? triste...? ou completo? Cabe na folha? Tem superfície lisa? ou é de contorno irregular?



Uma vez li, naquelas revistas da adolescência (que por não interessarem a ninguém interessam a muita gente) que nos definiamos pela forma que o batôn assumia depois de usado várias vezes. Escolhi, de entre seis, o perfil que mais gostava e pintei os lábios. Várias vezes. Até que assumisse a forma desejada...

2 jogadas:

hothotheart disse...

por acaso nunca fui d comprar essas revistas n sei porque...ainda hoje nao tenho paciencia pa folhear as ditas cor de rosa.
eu n costumo pintar os labios senao era um desastre ahaahah

Rostro disse...

sarrabiscos num desenho completo

sinal sonoro


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