sexta-feira

mudanças

Essa mulher quer mudar a posição das coisas.
Escolhe o sofá como primeiro objecto de ostentação, comprou-o quando o achava bonito, agora quer muda-lo, para lhe parecer melhor a seus olhos.
Muda-o de lugar, coloca-o contra a janela, parece que agora ficou melhor ali.
Não, continua tudo um caos.
Quer mudar o resto da sala.
Parece-lhe desconfortável como está.
Os músculos não descontraem em busca de uma constante mudança.
Muda e muda, coloca aqui e ali, desloca e desmonta.
Observa ao canto, encostada à lareira. Fica quieta à espera que algo se mexa e ocupe o devido lugar.
Como se as coisas não fossem objectos, como se os objectos não fossem estáticos.
Sabe o que as coisas valem, mas parece que não sabe.
Já não lhe resta muita força, só empenho mental.
Embrenha-se na sua imaginação , flutua nas projecções…
Projecta sonhos, concretiza realidades.
Se os objectos não fossem inanimados, talvez não se sentisse sozinha.
A solidão foi entrando pelas frestas, ocupando pequenos lugares, que se tornaram demasiado grandes e evidentes.
Essa mulher de aparência frágil e quebradiça, pele branca e imaculada, tem tudo e não tem nada.





Margarida

sinal sonoro


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